sexta-feira, 16 de março de 2007

Velório


No meu enterro não quero alegria de tipo algum. No meu velório não quero pagode, gente feliz, bebida ou coisa que o valha. O meu caixão não admito ser branco, minhas flores que não sejam róseas.

No meu enterro quero muita tristeza e pesar. No meu velório quero o Réquiem de Mozart, a inveja de Salieri, gente triste cogitando suicídio, apenas a sede. O meu caixão que seja de um negro irritante, e minhas flores vermelho-sangue.

Que se lembrem que não olharam-me enquanto pedi, que recordem-se das tantas vezes que implorei-lhes por amor. Que eu seja uma dramática vítima, e que se derramem muitas lágrimas por mim.
Que arrependam-se. Que chorem. Que gritem.

Quero então abrir meus olhos na tarde escura enquanto velam-me. E que se assustem, abracem-me depois. Quero que vejam que um dia podem me perder, e amem-me como jamais o fariam.

2 comentários:

Bina Goldrajch disse...

"-- Me solta - me solta que eu quero ser enterrada junto a ele!
Sem ele eu não posso viver!
Não entendem que tudo o que havia de belo na minha vida está sendo levado abaixo dentro deste caixão?
Não, desculpem, mas eu não posso mais viver!"

(agonia)

NKS disse...

Nesta crônica você atingiu o ápice do drama e do amor na mesma frase - última.
Sempre que o leio me emociono tanto.
Amei amei !