quinta-feira, 5 de abril de 2007
Anônimo
Um transeunte anônimo caminhava lentamente pelas ruas da decrépita cidade. Invisível aos olhos dos demais, que também invisíveis aos próprios olhos, ignoravam-se mutuamente, isolados em diáfanas cápsulas que supunham ser invioláveis.
Compasso binário os mantinha em passos uníssonos, cada qual em compartilhado ritmo, andando em incógnito rumo, desprovidos de feição ou deleite. Inertes movimentando-se em massa.
Um homem de súbito pára, observando a criança. No meio dos cinzas e das cinzas, uma doce menina canta antigas notas alentadoras: as máquinas, ou talvez ainda homens, páram a admirar.
Passa-se então a flutuar, saindo do corpo de um deles, uma alma. Seguem-se as demais, desprendendo-se da carne. As carcaças jaziam caídas no chão, como que observando o leve pairar dos espíritos daqueles infelizes.
A voz da menina ecoava pelo vácuo formado pelos prédios.
("Know Me", Slawek Gruca. Thank you Bina.)
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Um comentário:
Este texto me lembrou muito uma das pinturas de Slawek Gruca, chamada "Know me?". Ela está no meu álbum do orkut. Depois dá uma olhada lá.
Como sempre, amei.
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